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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019
Principais causas da Menstruação Irregular
Por: Drª. Sheila Sedicias
Ginecologista
A menstruação irregular é caracterizada por ciclos menstruais que não seguem um ritmo semelhante todos os meses, dificultando a detecção do período fértil e do melhor período para engravidar. Em geral, a menstruação varia entre 21 a 35 dias para descer, e é considerada regular quando acontece a cada 28 dias.
É normal que a menstruação seja irregular nos primeiros 2 anos após a primeira menstruação ou no período próximo à menopausa, pois são momentos de variações hormonais. Além disso, o ciclo irregular pode ser causado por diversos fatores, desde alterações na alimentação, estresse, excesso de atividade física, doenças ginecológicas ou alterações na produção de hormônios, por exemplo.
Assim, caso sejam notadas alterações no ciclo menstrual, o que se deve fazer é marcar uma consulta com o ginecologista para uma avaliação minuciosa para descobrir a causa e iniciar o tratamento.
O que pode deixar a menstruação irregular
Algumas das principais causas de menstruação irregular são:
1. Mudanças na pílula anticoncepcional
O uso da pílula anticoncepcional é uma forma prática de tornar a menstruação regular, pois deixa os níveis hormonais estáveis e de acordo com o uso dos comprimidos. Ao trocar o tipo de anticoncepcional, a dose ou ao usá-lo de forma irregular podem haver variações nos níveis de hormônios, o que interfere na descida da menstruação.
Além disso, ao deixar de usar a pílula anticoncepcional, a menstruação passa a ser regulada pela produção de hormônios nos ovários, o que pode variar de mulher para mulher, e o ciclo pode não ser exatamente como era ao usar a pílula.
2. Alterações hormonais
Alterações na produção de hormônios femininos podem interferir no ciclo menstrual. Algumas doenças que provocam este tipo de alteração são:
- Síndrome dos ovários policísticos;
- Hipotireoidismo;
- Hiperprolactinemia.
Estas doenças devem ser investigadas pelo ginecologista, através de exames de sangue, sempre que o ciclo menstrual estiver irregular, principalmente quando são ciclos muitos demorados.
3. Alterações alimentares
Transtornos alimentares, como anorexia, assim como uma perda de peso significativa, podem provocar irregularidades na menstruação, pois interferem na capacidade de produção de hormônios ovarianos, o que é uma forma do organismo tentar se adaptar à falta de energia.
4. Exercício físico em excesso
O exercício físico em excesso, comum em atletas, pode provocar alterações ou até a suspensão do ciclo menstrual. Isto acontece, pois as atividades físicas intensas levam à produção de hormônios, como endorfinas ou ACTH, por exemplo, que interferem no ritmo da menstruação.
5. Doenças ginecológicas
Doenças ginecológicas como endometriose, mioma uterinos, tumores ou síndrome de Asherman, em que se formam fibroses no útero, por exemplo, são doenças que provocam anormalidades no tecido do útero e podem provocar sangramentos fora de época ou mesmo ausência de menstruação.
7. Estresse
Estresse, ansiedade ou abalos emocionais podem geram a produção de hormônios como adrenalina e cortisol, que interferem no funcionamento do ciclo menstrual.
8. Gravidez e amamentação
A gravidez é a principal causa de falta de menstruação, explicada pelas alterações hormonais que são intensas neste período, com o objetivo de gerar o bebê. Após o parto, durante a amamentação, a falta de menstruação persiste, pois também são produzidos hormônios, como a prolactina, que inibe o funcionamento dos ovários e dificulta a fertilidade da mulher.
Chances de engravidar devido à menstruação irregular
Quando a mulher possui a menstruação irregular fica mais difícil calcular o seu período fértil. Se ela não utilizar nenhum método contraceptivo e mantiver contato íntimo com um homem, ela correrá o risco de engravidar. Caso este não seja o seu desejo, deverá utilizar algum método contraceptivo.
Já se a mulher deseja engravidar e possui a menstruação irregular, o que se pode fazer é comprar um teste de ovulação na farmácia, para verificar se está ou não no seu período fértil, assim saberá quando investir no contato íntimo.
Fonte: https://www.tuasaude.com
quinta-feira, 10 de janeiro de 2019
10 Coisas que Você Precisa Saber sobre Tireoide
Com forma bem parecida com a de uma borboleta, a glândula tireoide é localizada na parte anterior do pescoço, logo abaixo do Pomo de Adão. Reguladora da função de importantes órgãos como o coração, o cérebro, o fígado e os rins, ela produz os hormônios T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina).
Quando a tireoide não funciona de maneira correta, pode liberar hormônios em quantidade insuficiente, causando o hipotireoidismo, ou em excesso, ocasionando o hipertireoidismo. Nessas duas situações, o volume da glândula pode aumentar, o que é conhecido como bócio.
Confira, abaixo, as 10 coisas que você precisa saber sobre Tireoide.
1 – A tireoide atua no crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes, no peso, na memória, na regulação dos ciclos menstruais, na fertilidade, na concentração, no humor e no controle emocional.
2 – Quando ocorre o hipotireoidismo, o coração bate mais devagar, o intestino não funciona corretamente e o crescimento pode ficar comprometido.
3 – Diminuição da memória, cansaço excessivo, dores musculares e articulares, sonolência, aumento dos níveis de colesterol no sangue e depressão também são sintomas de hipotireoidismo.
4 – No caso de hipertireoidismo, que geralmente causa emagrecimento, o coração dispara, o intestino solta, a pessoa fica agitada, fala demais, gesticula muito, dorme pouco, sente-se com muita energia, embora também esteja cansada.
5 – Em um adulto, a tireoide pode chegar a até 25 gramas.
6 – Disfunções na tireoide podem acontecer em qualquer etapa da vida e são de simples de se diagnosticar. Além disso, elas podem ocorrer mesmo sem o bócio.
7 – O reconhecimento de um nódulo na tireoide pode salvar uma vida. Por isso, a palpação da glândula é de fundamental importância. Se identificado o nódulo, o endocrinologista deve solicitar uma série de exames complementares para confirmar ou descartar a presença de câncer.
8 – Estima-se que 60% da população brasileira tenha nódulos na tireoide em algum momento da vida. Mas isso não significa que sejam malignos. Apenas 5% são cancerosos.
9 – Além de se parecer com uma borboleta, a tireoide também lembra o formato de um escudo. Daí o surgimento de seu nome: uma aglutinação dos termos thyreós (escudo) e oidés (forma de).
10 – Algumas crianças podem nascer com hipotireoidismo. Para detectá-lo, é realizado o chamado Teste do Pezinho, que deve ser feito, preferencialmente, entre o terceiro e quinto dia de vida do bebê.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2019
Infecções do trato urinário
As infecções do trato urinário (ITU) estão entre as doenças infecciosas mais comuns na prática clínica, particularmente em crianças e adultos do sexo feminino, sendo apenas menos frequentes que as do trato respiratório. Elas representam cerca de 30 a 50% das infecções adquiridas em hospitais gerais.
Existem três possibilidades de um micro-organismo alcançar o trato urinário e causar infecção: através das vias ascendente, hematogênica e linfática.
Pela via ascendente, o micro-organismo poderá atingir através da uretra, a bexiga, ureter e o rim. Essa via é a mais frequente, principalmente em mulheres (pela menor extensão da uretra) e em pacientes submetidos à instrumentação do trato urinário.
A via hematogênica ocorre devido a intensa vascularização do rim podendo o mesmo ser comprometido em qualquer infecção sistêmica; é a via de eleição para ITU por alguns micro-organismos como Staphylococcus aureus, Mycobacterium tuberculosis, sendo também a principal via das ITU em neonatos.
A via linfática é rara embora haja a possibilidade de micro-organismos alcançarem o rim pelas conexões linfáticas entre o intestino e o rim e/ou entre o trato urinário inferior e superior.
De acordo com os órgãos acometidos, as ITUs são classificadas em:
Altas – que envolvem o parênquima renal (pielonefrite) ou ureteres (ureterites).
Baixas – que envolvem a bexiga (cistite) a uretra (uretrite), e nos homens, a próstata (prostatite) e o epidídimo (epididimite).
Bacteriúria
A urocultura é considerado o exame padrão-ouro no diagnóstico laboratorial das ITU.
A investigação microbiológica de suspeita da infecção urinária pela urocultura permite identificar dois grupos de pacientes com bacteriúria ≥ 100.000 Unidades Formadoras de Colônias (U.F.C.) por mL de urina: sintomáticos (com infecção urinária) e assintomáticos e (portadores de bacteriúria assintomática).
A infecção do trato urinário assintomática é a identificação de uma determinada contagem de bactérias, em urina colhida de forma apropriada, de um indivíduo sem sinais ou sintomas de infecção urinária.
Geralmente, é utilizado o critério do crescimento ≥ 105 UFC/mL em 2 amostras de urina colhidas em um intervalo superior a 24 horas. Considerando esse valor de corte, a bacteriúria é confirmada em urina colhida através de sondagem em > 95% dos casos; quando a quantificação é menor, normalmente não há confirmação.
Um grupo importante identificado com bacteriúria assintomática que merece seguimento são as grávidas, uma vez que possuem um risco de 20 a 30 vezes maior em desenvolverem pielonefrite durante a gestação, probabilidade maior de parto prematuro e recém-nascidos de baixo peso. Nessas pacientes a recomendação do uso de antibiótico terapia é indicada, porém o mesmo não ocorre em diabéticos, indivíduos institucionalizadas e com cateteres vesicais.
A urocultura é considerado o exame padrão-ouro no diagnóstico laboratorial das ITU.
A investigação microbiológica de suspeita da infecção urinária pela urocultura permite identificar dois grupos de pacientes com bacteriúria ≥ 100.000 Unidades Formadoras de Colônias (U.F.C.) por mL de urina: sintomáticos (com infecção urinária) e assintomáticos e (portadores de bacteriúria assintomática).
A infecção do trato urinário assintomática é a identificação de uma determinada contagem de bactérias, em urina colhida de forma apropriada, de um indivíduo sem sinais ou sintomas de infecção urinária.
Geralmente, é utilizado o critério do crescimento ≥ 105 UFC/mL em 2 amostras de urina colhidas em um intervalo superior a 24 horas. Considerando esse valor de corte, a bacteriúria é confirmada em urina colhida através de sondagem em > 95% dos casos; quando a quantificação é menor, normalmente não há confirmação.
Um grupo importante identificado com bacteriúria assintomática que merece seguimento são as grávidas, uma vez que possuem um risco de 20 a 30 vezes maior em desenvolverem pielonefrite durante a gestação, probabilidade maior de parto prematuro e recém-nascidos de baixo peso. Nessas pacientes a recomendação do uso de antibiótico terapia é indicada, porém o mesmo não ocorre em diabéticos, indivíduos institucionalizadas e com cateteres vesicais.
Evolução
Episódio único ou isolado: ocorre uma única vez e resolve habitualmente pelo uso de antibióticos. Um segundo episódio isolado pode ocorrer sem relação temporal com o anterior. Entre 10 a 20% das mulheres irão apresentar no decorrer da vida pelo menos um episódio de infecção urinária.
Recidiva: por falha no tratamento, o mesmo micro-organismo isolado previamente persiste no trato urinário, causando infecção ou bacteriúria assintomática. A persistência do mesmo micro-organismo por meses ou anos, leva a infecção urinária crônica.
Reinfecção: é a ocorrência de um novo episódio de ITU, sem relação com o evento anterior, causado por outro micro-organismo, exceto que pela origem e frequência do agente etiológico que coloniza a região perineal, pode ser atribuída à mesma espécie bacteriana (Ex.: E. coli). Episódios repetidos de reinfecção não devem ser confundidos com infecção urinária crônica.
ITU crônica: representa a persistência do mesmo micro-organismo por meses ou anos com recidivas após tratamento, no caso de pielonefrite crônica, há associação com comprometimento da pelve e parênquima renal.
ITU recorrente: ocasionalmente, a recorrência é pela persistência do mesmo agente (recidiva), mas em cerca de 90% dos episódios ocorre por reinfecção, com meses de intervalo entre eles. Cerca de 20% das jovens após o episódio inicial de cistite tem infecções recorrentes, que caracterizam bem esse grupo. Dois ou mais episódios no período de 6 meses ou três ou mais no período de um ano definem as infecções recorrentes na mulher. Nos homens, a ITU recorrente é definida quando ocorrem dois ou mais episódios de ITU em um período de até 3 anos, lembrando a frequente associação com prostatite bacteriana crônica, nos pacientes sem fatores predisponentes.
Manifestações clínicas
Tipo de infecção | Manifestação clínica | Micro-organismo isolado | Diagnóstico e contagem de UFC/mL |
Pielonefrite |
Aguda: febre, náusea
calafrios, vômito, dor no flanco
Crônica: assintomática
|
Enterobactérias como E . coli e outros Gram-
negativos, Enterococcus spp., Staphylococcus aureus | ≥ 105 |
Cistite |
Disúria e aumento da frequência urinária
|
Escherichia coli
Outros Gram Negativos S. saprophyticus, Enterococcus spp. | ≥ 105 |
Uretrite |
Disúria, aumento da frequência urinária,
corrimento uretral |
Chlamydia trachomatis
Mycoplasma hominis Ureaplasma urealyticum Neisseria gonorrhoeae Trichomonas vaginalis Candida albicans e spp. | - |
Prostatite |
Aguda: febre,
calafrios, dor lombar Crônica: assintomática ou semelhante aos sintomas da aguda |
N. gonorrhoeae, E. coli, Proteus spp. e outras enterobactérias.
Menos frequente: Enterococcus spp. P. aeruginosa e Chlamydia trachomatis* |
Urocultura ou cultura de secreção prostática
*diagnóstico por métodos moleculares |

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (área de concentração: virologia). Coordenador e docente do curso de pós-graduação em Hematologia e Hemoterapia da AGD Cursos. Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2019
Choosing wisely: 5 dicas para administração de antibiótico hospitalar na pediatria
Em mais uma publicação da campanha Choosing Wisely, a American Academy of Pediatrics, em parceria com a Pediatric Infectious Diseases Society, abordou cinco estratégias antibióticas que os médicos devem questionar ou evitar em pacientes pediátricos no hospital.
1) Com exceção de casos excepcionais, a antibioticoterapia empírica no paciente com suspeita de infecção bacteriana invasiva só deve ser iniciada após a cultura de sangue, urina e etc.
Para suspeitas de infecções bacterianas invasivas, os exames de diagnóstico devem incluir hemoculturas e cultura apropriada de amostras do local suspeito de infecção.
2) Não usar antibiótico de amplo espectro para a profilaxia perioperatória em procedimentos não complicados. Não continuar com a profilaxia após a incisão ser fechada.
Não há evidências de que antibióticos de amplo espectro e durações mais longas de terapia são mais benéficos para o paciente. Além disso, essas práticas contribuem para o desenvolvimento de resistência antimicrobiana e o surgimento de organismos patogênicos.
3) A pneumonia adquirida na comunidade sem complicações em pacientes hospitalizados, imunizados e saudáveis, não deve ser tratada com antibioticoterapia mais ampla que a ampicilina.
Pneumonia é responsável por uma porcentagem significativa do uso de antibióticos em crianças. O uso desnecessário de antibióticos de amplo espectro, incluindo cefalosporinas, tem demonstrado contribuir para a resistência a antibióticos e infecção por C. difficile.
4) O uso empírico de vancomicina ou carbapenêmicos deve ser evitado em pacientes críticos na UTI neonatal, exceto quando o paciente tem um risco aumentado para organismos resistentes a agentes de espectro mais restrito.
Antibióticos como a vancomicina e os carbapenêmicos são ativos contra bactérias altamente resistentes aos antibióticos, que não respondem a outros antibióticos. Seu uso excessivo pode promover colonização e infecção com organismos cada vez mais resistentes, aumentando o espectro de morbidade e mortalidade devido à infecção intratável.
5) Em crianças saudáveis com infecções que podem ser transferidas para um agente oral apropriado, deve-se evitar o uso de cateteres centrais e antibióticos intravenosos prolongados.
Cateteres centrais de inserção periférica (PICC) são muito utilizados em crianças que necessitam de antibióticos intravenosos a longo prazo. As infecções mais comuns relacionados aos PICCs respondem bem aos antibióticos administrados por via oral após um breve período de terapia intravenosa.
Saiba tudo sobre hemorragia intracraniana
Autor: Dr. Eduardo Moura Assad Monteiro dos Santos

A hemorragia intracraniana espontânea é a causa mais comum de sangramento intracraniano não traumático, seguida por hemorragia subaracnoide e hemoventrículo (não traumáticos). É uma forma grave de acidente vascular encefálico (AVE), de difícil tratamento e que afeta cerca de 2 milhões de pessoas por ano no mundo. Caracteriza-se por sangramento iniciado no parênquima encefálico, mas pode se expandir para o espaço meníngeo e ventrículos.
Cerca de um terço dos pacientes falecem no primeiro mês após o evento, e a maioria que sobrevive apresenta sequelas motoras, sensitivas, cognitivas e/ou epilepsia. A mortalidade da doença se manteve estável nos últimos 30 anos, com tendências de melhora em países com serviços de terapia intensiva melhores e mais acessíveis, já que não há tratamento medicamentoso claramente benéfico e o tratamento cirúrgico nem sempre é indicado (ou resolve o quadro).
Diagnóstico da hemorragia intracraniana
O diagnóstico é difícil de ser diferenciado de um AVE isquêmico (AVEi), mas alguns sinais são mais típicos e indicativos do efeito de massa rapidamente expansivo do hematoma: crises convulsivas, vômitos, evolução rápida e rebaixamento do nível de consciência. Rigidez nucal pode indicar uma meningite química por extensão do sangramento neste espaço. A neuroimagem (preferencialmente tomografia computadorizada [TC], por ser mais rápida) é mandatória e deve ser feita o mais rápido possível. A TC ou ressonância magnética (RMN) do crânio dão o diagnóstico diferencial, que inclui como principais entidades o AVEi, massas neoplásicas ou apoplexia (sangramento de uma massa tumoral prévia, comum em neoplasias metastáticas ou neoplasia primária de pineal).
Cerca de 15% dos casos de AVEh em adultos estão associados a malformações arteriovenosas (MAV), fístulas vasculares ou aneurismas. Em pacientes suspeitos (principalmente caso idade maior que 50 anos, ausência de hipertensão arterial sistêmica [HAS] e localização cortical/periférica), deve ser feito exame de imagem vascular: angiografia, angio-TC ou angio-RMN. Especificamente na angio-TC (principalmente na monofásica), pode-se observar em alguns casos o sinal da “mancha”, que corresponde ao extravasamento de contraste no ponto de ruptura do vaso arterial, indicando que ainda há sangramento ativo e probabilidade de crescimento do hematoma; nestes casos aparentemente há um benefício maior da abordagem cirúrgica precoce em relação à abordagem conservadora.
A TC multifásica pode confundir ou dificultar a determinação do sinal da mancha devido a aquisições mais tardias de imagem, e de fase venosa na imagem. A angio-TC dinâmica pode determinar com mais precisão a vazão do sangramento e seu comportamento, mas envolve doses elevadas de radiação e é um exame mais demorado.
A escala ICH é a mais utilizada para definição prognóstica do AVEh. A escala do National Institutes of Health (NIHSS) é de difícil aplicação devido ao fato que o paciente geralmente terá redução do nível de consciência importante, e as escalas radiológicas podem ser úteis na previsão de crescimento do hematoma, mas não são superiores a ICH para definição de prognóstico clínico.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco do AVEh são HAS, idade avançada, sexo masculino, uso de drogas ilícitas, etilismo (principalmente uso abusivo esporádico), alto consumo de gorduras e pouco consumo de fibras, e fatores genéticos ligados à integridade endotelial. Doença de pequenos vasos intracraniana (DPVI), angiopatia amiloide, vasculites (infecciosas, autoimunes, paraneoplásicas) e malformações vasculares (MAV, fístulas, aneurismas) podem estar associados.
Lesões nos núcleos da base e tálamo muitas vezes estão associadas à arteriosclerose ou angiopatia hipertensiva das artérias perfurantes. A angiopatia amiloide está mais associada a múltiplos pequenos sangramentos com deposição de hemossiderina e grandes sangramentos lobares, muitas vezes associada à demência. MAV em geral levam a extravasamento do sangramento para outros compartimentos intracranianos, apresentam calcificações no seu interior e “vazio de fluxo” em exames vasculares; os cavernomas no entanto são pequenos e em geral não extravasam.
Aneurisma
Os aneurismas em geral levam a um extravasamento desproporcional para o espaço subaracnoide. Nas fístulas arteriovenosas durais, o extravasamento subdural/subaracnoideo é extenso e os vasos corticais estão ingurgitados.
Trombose venosa intracraniana pode levar a sangramento, mas geralmente adjacente aos seios venosos, com muito edema e com cefaleia proeminente. Na transformação hemorrágica do AVEi, há áreas de isquemia permeadas por áreas de hemorragia. Vasculites que causam sangramento em geral afetam diversos territórios vasculares simultaneamente, cursam com cefaleia intensa e há estenoses vasculares associadas. A embolização de endocardite infecciosa pode levar a diversos pequenos aneurismas e sangramentos em vários territórios vasculares.
Sangramento intracraniano espontâneo é uma emergência médica, e o prognóstico do paciente depende da presteza e qualidade dos cuidados de suporte fornecidos. O paciente deverá ser alocado em unidade de terapia intensiva geral ou idealmente em unidades neurointensivas. O controle da pressão arterial (PA) é classicamente indicado como “permissivo” (PA sistólica <180 mmHg), no entanto dois estudos importantes, INTERACT2 e ATACH-II, mostraram que manter um alvo de PAS <140 mmHg em seis horas após o evento pode reduzir o crescimento do hematoma e potencialmente melhorar o prognóstico (apesar de serem necessários mais estudos para definir este benefício, principalmente em pacientes cirúrgicos e em casos de reversão de trombólise/anticoagulação); porém, este alvo mais baixo da PA parece ser seguro.
Pacientes em uso prévio de antiagregantes plaquetários que apresentam AVEh tem pior prognóstico, porém estudos com transfusão de concentrados de plaquetas nestes pacientes, seis horas após o evento, mostraram evoluções desfavoráveis, e esta prática não é indicada.
Cerca de 15% dos casos de AVEh estão associados à anticoagulação oral; a varfarina é a principal causa, e leva a pior prognóstico, que os novos anticoagulantes orais (chamados anticoagulantes diretos). No caso da varfarina, indica-se o uso de vitamina K associada à protrombina (fator-4) como primeira opção, e plasma fresco como segunda opção. Os anticoagulantes diretos tem seus antídotos específicos (idarucizumab e andexanet-alfa).
O uso de fármacos hemostáticos no AVEh é objeto de estudo, mas não há recomendações formais para seu uso. O fator VIIa recombinante parece ser aplicável a pacientes com pequenos sangramentos, mas apenas até duas horas e meia após o evento, dificultando sua aplicação; e o ácido tranexâmico parece ter benefício e boa segurança, mas carece de mais estudos de maior escala para definição de sua real utilidade.
Epilepsia secundária pode ocorrer de 5-10% dos pacientes vítimas de AVEh; no entanto, não há indicação para uso profilático de antiepilépticos dados os riscos associados, principalmente à redução do nível de consciência. Edema perilesional, principalmente causado pela quebra da barreira hematoencefálica, é comum; nenhum tratamento usual para edema (corticoides, manitol, glicerol, hiperventilação) se mostrou eficaz em estudos. Alguns estudos mostram benefício marginal com salina hipertônica e hipotermia leve, craniectomia descompressiva precoce e há estudos em curso com fingolimode e deferoxamina.
Pacientes com hemoventrículo, hidrocefalia, herniação transtentorial e comatosos devem ter a pressão intracraniana monitorada e serem avaliados sobre possibilidade cirúrgica. É recomendado que estes pacientes fiquem em posição mais próxima, no leito, ao sentado do que em decúbito. A profilaxia para tromboembolismo nestes pacientes deverá ser preferencialmente com compressão pneumática intermitente dos membros inferiores, já que heparina (não-fracionada ou de baixo peso molecular) não é indicada nas primeiras 24-48h após o sangramento.
A abordagem cirúrgica deve ser sempre avaliada caso a caso, mas em geral é indicada quando a hemorragia é volumosa, há efeito compressivo parenquimatoso importante, e há comprometimento do nível de consciência. A drenagem ventricular externa nos casos de hemoventrículo, associada ou não à irrigação com alteplase, é indicada, porém não há consenso sobre o limiar de volume de sangue presente no ventrículo para indicação. Abordagens minimamente invasivas (estereotaxia, endoscopia intracraniana, aspiração com uso de trombolíticos e USG focado) vem ganhando mais atenção e sendo objeto de estudo em países desenvolvidos.
O risco de recorrência do AVEh é cerca de 5% ao ano; assim sendo, o controle dos fatores de risco, principalmente HAS, é fundamental. O risco de AVEi também é elevado, o que leva ao dilema de iniciar (ou reiniciar, caso o paciente já usasse antes do evento) antiagregantes plaquetários e estatinas. Apesar de alguns estudos mostrarem maior risco de sangramento com níveis baixos de colesterol, em geral indica-se o uso das estatinas. Já o uso de antiagregantes e anticoagulantes é controverso e deve ser avaliado individualmente, porém a tendência é de se tentar prevenir eventos isquêmicos, pois o risco de ocorrerem é maior que o risco de novo sangramento, caso os fatores de risco sejam controlados.
AVEh no Brasil
O AVEh é uma doença grave, muito prevalente em nosso país, e uma importante causa de mortalidade e morbidade. O prognóstico do paciente dependerá essencialmente da presteza e da qualidade do atendimento dado no momento do evento; em geral haverá necessidade de suporte clínico intensivo. Apesar de ser citado no artigo, no Brasil são raras a unidades neurointensivas, e ainda mais raras as “stroke units”; no SUS, muitas vezes é até mesmo difícil que o paciente tenha acesso a uma unidade de terapia intensiva, pois os leitos são escassos.
Apesar de a abordagem cirúrgica nem sempre ser indicada, a avaliação do neurocirurgião é essencial, e em caso de indicação, a cirurgia deve ser feita em condições adequadas e o mais rapidamente possível; outro problema que aumenta a gravidade do AVEh, pois nem todos os hospitais e unidades de pronto atendimento terão acesso rápido ao exame de imagem, ao neurocirurgião (e também ao neurologista), e nem sempre há disponibilidade de material e local para a abordagem necessária.
Conclusão
A despeito de todos estes problemas, é essencial que conheçamos e consigamos diagnosticar corretamente o AVEh, investigar suas possíveis causas, fornecer o melhor suporte clínico possível, utilizar as medidas cirúrgicas e não cirúrgicas corretamente para fornecer o melhor prognóstico possível ao paciente. Idealmente, devemos fazer a prevenção primária com o controle dos fatores de risco, e após um evento, sempre reforçar este controle para prevenção secundária, incluir o paciente nos programas de reabilitação necessários (fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional) e tratar as sequelas e comorbidades (por exemplo, controle de epilepsia secundária).

Eduardo Moura Assad Monteiro dos Santos ⦁ Neurologista ⦁ CRM 52.91983-7 ⦁ Praça Saens Peña, 45, sala 1110 – Tijuca, Rio de Janeiro ⦁ Telefones: (21) 2254-9669, (21) 2567-7696, (21) 99871-3591
Fonte https://pebmed.com.br/
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